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Mudanças climáticas : reinventar a agricultura e os sistemas alimentares
Paisagem de arrozais em Madagascar. Madagascar é um país altamente vulnerável às mudanças climáticas. © C. Cornu, Cirad
Em escala mundial, os sistemas agrícolas, alimentares e florestais produzem mais de um terço das emissões de gases de efeito estufa, contribuindo significativamente para as mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, esses sistemas sofrem fortemente as consequências, especialmente nos países do Sul. No entanto, eles também têm um grande potencial de adaptação e mitigação, principalmente por meio do sequestro de carbono nos solos e na biomassa, que deve ser aproveitado para estabelecer sinergias de ação.
O livro “A agricultura e os sistemas alimentares mundiais face às alterações climáticas – Desafios para os países do Sul”, publicado pela editora Quae em 26 de junho, questiona e explora a diversidade de estratégias necessárias a diferentes escalas — genética, práticas agrícolas, políticas públicas, comércio, finanças — para transformar de forma sustentável os sistemas agrícolas e alimentares face às mudanças climáticas.
O livro destaca a urgência de mudanças sistêmicas para operar transformações reais e antecipar as mudanças (evolução dos modelos agrícolas dominantes, reterritorialização, adaptação dos sistemas alimentares, redução de perdas...) e a necessidade de adaptá-las aos contextos bioclimáticos, socioeconômicos e políticos.
Coordenado por Vincent Blanfort, responsável pela missão “mudanças climáticas”, Julien Demenois, responsável pela missão “4 por 1000”, e Marie Hrabanski, politóloga, todos os três atuando no Cirad, o livro mobilizou cerca de 150 cientistas do Norte e do Sul. Ele destaca o papel central da pesquisa diante de um dos maiores desafios da nossa época.
Em um contexto em que as ciências, especialmente as ciências climáticas, são frequentemente ignoradas e cada vez mais contestadas, ou mesmo reduzidas a meras opiniões, é mais do que nunca essencial martelar esses fatos científicos, explicando-os e tornando-os acessíveis. (...) Este livro destaca as especificidades dos países do Sul, frequentemente sub-representados nos trabalhos científicos, apesar de estarem entre os mais vulneráveis às mudanlas climáticas. Numa altura em que a solidariedade internacional é questionada e o multilateralismo é rediscutido, o mundo científico tem o dever de resistir.
A obra tem prefácio de Laurence Tubiana, presidente e diretora-geral da Fundação Europeia para o Clima, e Elisabeth Claverie de Saint Martin, CEO do Cirad.
A caminho da COP30 sobre o clima
A versão em inglês da obra será lançada pela editora Springer por ocasião da COP30 em Belém, no Brasil, em novembro de 2025.
Para Laurence Tubiana, “o desafio da COP30 será colocar o clima de volta no centro das preocupações internacionais. A história das COPs mostra que o envolvimento dos cidadãos e dos atores não governamentais é essencial para fazer avançar as decisões políticas. No entanto, as recentes COP, de Baku e Dubai, marginalizaram a sociedade civil. O Brasil pretende inverter esta tendência, integrando os cidadãos no processo de tomada de decisões e colocando a justiça social no centro dos debates. A opinião pública mundial continua a ser massivamente favorável a uma ação climática forte, e os conhecimentos indígenas e científicos devem contribuir para esclarecer os debates.”
Por reunir conhecimentos científicos provenientes de pesquisadores especialistas nessas questões e produzidos em diversos territórios do Sul particularmente afetados pelas mudanças climáticas (África, América Latina e Central, Ásia, etc.), este livro constitui uma referência essencial para compreender parte dos desafios da COP30 e das futuras negociações climáticas.
Em 2018, o CIRAD decidiu incluir as questões climáticas como uma prioridade científica estratégica. (...) O campo temático estratégico (CTS) “Acompanhar todas as agriculturas do Sul na adaptação e mitigação das mudanças climáticas” é objeto de uma animação científica interdisciplinar, em conjunto com os parceiros do CIRAD (...) Este livro coletivo foi concebido com o objetivo de compartilhar os conhecimentos obtidos pelo Cirad e seus parceiros, no âmbito da animação científica do CTS (...) Ele contribui para reforçar o papel do Cirad como interlocutor de referência em pesquisa sobre questões relacionadas ao clima e à agricultura.
Sobre os coordenadores
Vincent Blanfort
Vincent Blanfort, engenheiro em desenvolvimento agrícola e doutor em agroecologia, é pesquisador do Cirad na UMR Selmet. Suas pesquisas se concentram nos balanços de carbono em sistemas de pecuária em pastagens. Ele também é responsável pela área de Mudanças Climáticas no Cirad.
Julien Demenois
Julien Demenois, engenheiro de Pontes, Águas e Florestas e doutor em Ecologia Funcional, é pesquisador do Cirad na UR Aïda. Suas pesquisas se concentram no sequestro de carbono em solos tropicais. Ele também é responsável pela missão “4 por 1000” para o Cirad.
Marie Hrabanski
Marie Hrabanski é pesquisadora em sociologia política no Cirad, no UMR Artdev. Seu trabalho se concentra na elaboração e implementação de políticas e instrumentos de adaptação da agricultura às mudanças climáticas no Norte e no Sul.
Para citar esta obra
Blanfort V., Demenois J., Hrabanski M., 2025. L’agriculture et les systèmes alimentaires du monde face au changement climatique. Enjeux pour les Suds, Versailles, éditions Quæ. 416p. https://doi.org/10.35690/978-2-7592-4009-8
A obra está disponível em formato PDF, com acesso gratuito, no site da Quae